Há por aí muitas e diferentes visões, conforme as fontes consultadas. Vamos buscar aqui uma consolidação e aprofundamento, com base em nosso conhecimento e vivência no assunto.

Quem são os CFOs?

Os CFOs coordenam todas as operações de finanças de uma organização, incluindo, mas não limitado à contabilidade, relatórios financeiros, tributário, controladoria (controle dos negócios), tesouraria (incluindo fluxo de caixa), planejamento financeiro-orçamentário e impostos. Gerenciam todos os aspectos financeiros e as tomadas de decisões da companhia.

Em algumas organizações, tem sua função ampliada para além de Finanças, e assumem muitas vezes outras funções corporativas, como TI, RH, Jurídico, Riscos e outras.

No passado, os CFOs ficavam mais nos bastidores das organizações, hoje, porém, estão na linha de frente, protagonistas na gestão das organizações.

O que faz um CFO?

O CFO dirige as metas financeiras, os objetivos e os orçamentos da empresa. Gerencia os investimentos dos fundos da companhia e avalia e mitiga os riscos financeiros, assegurando-se da existência de adequados controles internos. Supervisiona as atividades de gestão de caixa, lidera o levantamento de capital para apoiar as estratégias de expansão da empresa junto a instituições financeiros ou mercado de capitais (como nas aberturas de capital, os IPOs), coordena relacionamento com auditores e se envolve diretamente com as fusões e aquisições. Muitas vezes, faz parte do Conselho da empresa ou ao menos interage frequentemente junto a este.

Um bom CFO consegue traduzir as estratégias da empresa em um plano orçamentário com metas claras e medição via indicadores, alinhando também (juntamente com RH) a remuneração ao efetivo desempenho no atingimento dessas metas, fundamental para o sucesso do plano. Muitas estratégias corporativas falham, não por não serem boas, mas for falta de medição e acompanhamento, papel chave do CFO no apoio ao Conselho [1].

Segundo a consultoria Deloitte[2],  o CFO é responsável por cumprir simultaneamente quatro papéis bastante complexos na organização:

Controlador: proteger e preservar os investimentos da organização, reportando de forma precisa as informações financeiras.

Operador: garantir o funcionamento dos processos com a utilização eficaz dos recursos financeiros da empresa.

Estrategista: prover uma liderança para tomada de decisões alinhadas à estratégia financeira.

Catalisador: estimular iniciativas que contribuam para o alcance dos objetivos estratégicos e financeiros, criando uma cultura de gestão de riscos.”  [3]

Cada vez mais o CFO tem migrado de responsável pelos balanços e números da companhia para o de assessor estratégico de negócios.

E o que é preciso para ser um CFO?

Obviamente, começa pela formação, que envolve temas contábeis e de finanças. O mais comum no Brasil é que o CFO tenha formação em Administração de Empresas, Ciências Contábeis e Economia, e que consolide mesma com cursos de extensão, como pós-graduações em Finanças ou Controladoria ou MBAs. Há também profissionais oriundos de outras cadeiras, como de Engenharia, mas estes normalmente buscam essas formações complementares. Experiências anteriores em auditoria externa agregam muito.

Além dos conhecimentos básicos, há certas habilidades fundamentais. Primeiro, a facilidade de compreender uma multitude de números, internos e de mercado, e correlaciona-los com as operações rotineiras da organização e com a sua estratégia. E com base nisso, analisar os melhores caminhos, explicar de forma clara e discutir com pares e superiores (CEO e muitas vezes o Conselho), demonstrando claramente quais os prós e contras do ponto de vista financeiro, recomendando o que é melhor, sempre com uma visão de risco versus retorno.

E muitas vezes o próprio CFO terá que liderar ou acompanhar de perto muitas dessas iniciativas corporativas, necessitando de capacidade de liderança, bom relacionamento, comunicação e, algo muito requisitado hoje, saber identificar, motivar e reter talentos. Sobre este último assunto, inclusive escrevi um artigo a respeito [4].

E por falar em artigos, escrevi também outros [5] [6] muito importantes para a carreira de um CFO, onde falo sobre o papel do mesmo durante as crises, relativamente periódicas no Brasil. Em uma analogia, o CFO é aquele que segura o leme do barco durante uma tempestade, então várias outras habilidades são requeridas.

Os CFOs modernos também têm que dominar um crescente volume de dados e saber usar ferramentas para extrair “insights” importantes e estratégicos para a organização, não se restringindo apenas às obrigações estatutárias e de “compliance”, como era o foco no passado, ainda que tais obrigações continuem a ser muito relevantes.

Veja também o podcast de minha entrevista sobre o tema “Como é a trajetória de um CFO de sucesso”.

A diferença entre CEO e CFO, entre CFO e Controller (Controlador)

Normalmente são funções bem distintas, com o CFO se reportando ao CEO, mas é comum que pessoas que não estejam acostumadas com o linguajar empresarial confundam as duas siglas. Alguns CEOs, em certas organizações, especialmente nas menores, acabam por fazer muitas das tarefas estratégicas de um CFO e, no lugar deste, se apoia diretamente em profissionais mais juniores e mais operacionais, como “controllers” (função de controlador, já descrita acima) e tesoureiros (que cuida do caixa e operações com bancos), sendo que estes profissionais normalmente se reportam ao CFO em organizações maiores e mais estruturadas.

Então, não é incomum vermos no mercado cargos de CFO que, na verdade, são “controllers” ou tesoureiros, mais operacionais e menos estratégicos, apesar de fundamentais. Por isso uma certificação CFO, como a promovida por organizações com o IBEF (Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros), é importante. Aliás, há também certificações separadas para “controllers” e tesoureiros [7].

Então, mas qual é a diferença mesmo entre CEO e CFO?

As duas funções são chave nas organizações, mas cada uma tem suas características próprias, sendo, porém, altamente complementares.

O CEO tem o papel principal de supervisionar as operações de toda a empresa, desde as vendas até a administração. Ele ocupa o cargo mais alto da empresa e se reporta apenas ao conselho de administração ou sócios controladores.

O principal dever do CEO é ter uma visão geral, supervisionando as operações em todas as áreas e certificando-se de que os objetivos de curto e longo prazo da organização sejam alcançados. O CEO não se envolve nas tarefas detalhadas de cada departamento, mas mantém uma supervisão geral com a ajuda dos diretores das áreas. O CEO também se envolve bastante em relações estratégicas, como com principais clientes e fornecedores.

Por outro lado, o CFO assume a posição financeira mais elevada da empresa. O foco principal de um CFO é a gestão financeira do negócio, dando suporte ao CEO nestas questões. Suas relações estratégicas envolvem relacionamentos com instituições financeiras e muitas vezes informações aos acionistas e ao mercado, conhecido como RI – Relacionamento Institucional, onde explica ao mercado os números e resultados da organização, com elevado padrão de acuracidade, sendo uma função muito relevante no mercado de capitais [8].

Como o CFO mergulha na estratégia financeira e supervisiona as finanças de toda a organização, sendo muitas vezes o braço direito do CEO, é relativamente comum que muitos CFOs acabem sendo promovidos a CEO ou substituindo esses. Em certos ramos de negócio, que requerem bom conhecimento financeiro, isso é até o esperado ou muito frequente.

Espero ter contribuído!

Sérgio Diniz

Sócio fundador e presidente da Triple A – Advisor

CFO Certificado pelo IBEF-SP

Vice-Presidente do Conselho Nacional Diretor do IBEF

Fontes:

https://www.robertwalters.com.br/dicas/quer-ser-um-cfo.html

https://www.michaelpage.pt/advice/fun%C3%A7%C3%A3o/finance/descri%C3%A7%C3%A3o-de-fun%C3%A7%C3%B5es-administrador-financeiro-cfo

https://www.investopedia.com/terms/c/cfo.asp

https://corporatefinanceinstitute.com/resources/career/ceo-vs-cfo/

https://www.toptal.com/finance/interim-cfos/role-of-the-cfo


[1] Ver também https://www.linkedin.com/pulse/como-os-conselheiros-podem-contribuir-monitoramento-da-sergio-diniz/

[2] https://www2.deloitte.com/us/en/pages/finance/articles/gx-cfo-role-responsibilities-organization-steward-operator-catalyst-strategist.html

[3] https://lbarreiros.wordpress.com/2014/11/03/as-quatro-faces-do-cfo-chief-financial-officer/

[4] Ver https://ibefsp.com.br/gestao-de-talentos/

[5] Ver https://ibefsp.com.br/o-cfo-e-a-crise-algumas-licoes-praticas/

[6] Ver https://ibefsp.com.br/a-gestao-de-caixa-em-tempos-de-crise-e-fora-dela-tambem/

[7] Mais detalhes em https://ibefsp.com.br/certificacao/

[8] https://exame.com/invest/guia/o-que-e-cfo-e-qual-sua-funcao/